segunda-feira, 9 de abril de 2007

Enfim... Só.

Gutemberg vai à sala 8101 do edifício Felicidade mais uma vez, não se trata de uma simples e almejante visita, ele, enfim, realiza o sonho de ter aquele espaço. Ali funcionaria seu comitê político durante as eleições. Eliza era só alegria por ver o empenho de seu marido, candidato a governador. Ela, uma mulher muito leal a seu cônjuge, ajudava-o no que estivesse ao seu alcance, e nas eleições o apoiava fortemente!
O vice-candidato a governador na chapa de Gutemberg era o Glauber, pessoa na qual ele depositava extrema confiança, desde jovens eram parceiros, já adultos, ingressaram na política mantendo a amizade.
Tudo ocorria muito bem no pleito eleitoral, eles estavam praticamente eleitos, apenas não era ainda o dia da votação. Mas diferente do companheiro de chapa, Glauber não demonstrava tanta satisfação, ele se comportava estranhamente, uma frieza estampada na cara, no entanto, não fazia corpo mole para tornar concreta a vitória.
Passado algum tempo, agora faltando pouco para as pessoas irem às urnas, o casamento de Eliza e Gutemberg sofre uma desestabilização, provocada por uma crise de ciúme da parte dela, dizia não estar gostando do horário em que seu esposo andava chegando a casa, das muitas ligações que ele recebia, teve quase um "rever stress".
De fato as chegadas em casa tarde da noite ocorriam, assim como as ligações freqüentes, mas nada tinham a ver com traição ou qualquer coisa do gênero, na verdade o candidato estava sendo muito pressionado pelo seu vice, às vezes tendo que tomar decisões de campanha que fugiam do que ele acreditava ser o correto, nem tudo era decidido por ele, afinal, tinha um parceiro tentando eleger-se junto. Mesmo com todos os impasses eles vencem as eleições.
Agora, em vez de paz a vida de Gutemberg passará por um turbilhão tempestuoso! Eliza, então primeira dama, se mostra uma mulher inversa à qual ele se casou. Todas as chateações que ela criava dentro de casa, alegando estar sendo traída, não passavam de simulações, puro teatro, e na verdade o traído era o esposo.
Sem que o governador percebesse, a primeira dama estivera tendo um caso com Glauber desde um pouco depois de seu casamento, e essa relação adúltera intensificára-se no período do pleito. O triangulo já se conhecia havia muito tempo.
Certo dia, Gutemberg, bastante enfadado, é surpreendido ao chegar a sua residência. Eliza e o vice-governador encontravam-se nus, em plena sala de estar! Ao deparar-se com a cena, o governador ficou perplexo, via, mas parecia não querer enxergar, sem tomar nem uma atitude a fim de cessar o que presenciara, ele seguiu em direção ao quarto.
Mais entristecido que enraivado, pôs-se a chorar, enquanto sua esposa e seu amigo terminavam o que tinham começado na sua ausência. Mesmo com a presença do marido em casa, ela resolve finalizar a transa com seu amante. Sem demonstrar qualquer sinal de arrependimento, a primeira dama vai ao encontro do traído.
Aos risos, acompanhada de Glauber, a adúltera entra no recinto onde se encontrava Gutemberg. O clima não era nada agradável, estavam ali os três unidos por uma miscelânea de sentimentos, que em nada se associava à felicidade. Totalmente desprendida de culpa, Eliza, em tom sarcástico, diz:
- O que aconteceu meu amor? Por que choras? Olha só como estamos felizes! Você está feliz em me ver feliz... Não está? Fala seu côrno! Esse tempo todo tendo que te aturar, fazendo o papel de boa esposa, tudo porque o que eu queria mesmo era boa vida! Encontrei um paspalhão, um político rico, e de quebra, um amigo bastante interessante não tão abonado!
Muito irritado, com os olhos lacrimejados, Gutemberg responde:
- Você é uma louca! O que pensas que está fazendo? Durante quinze anos ao seu lado, pensei que a fazia feliz sendo um esposo íntegro, dedicado, e acreditava ser verdadeira a recíproca com a qual eu era tratado. E só agora vejo com quem eu convivo, dois salafrários, sanguessugas. Vejo que nem você nem ele, ele que dizia ser meu amigo, têm o mínimo de consideração pela minha pessoa! Ou melhor... Devem ter sim, me consideram um panaca!
Rindo cada vez mais, provocando seu marido, Eliza afirma:
- Isso mesmo Gugu, você é um panaca mesmo, mais que isso, um lerdo, porque durante todo esse tempo não conseguira enxergar o que tava diante dos seus olhos! Confia facilmente nos que dizem ser seus amigos, e ai finda nisso. Diferente de você, nós fomos bons atores, posso assim dizer, interessados em ascender sem muito trabalho, nos aliamos e demos o golpe em ti.
A primeira-dama, aproveitadora que só ela, não via problemas em tornar conhecida toda a situação existente entre ela e o amigo de seu esposo, já que a medida primordial adotada por ele seria pedir o divórcio e caso isso se deflagrasse, ganharia uma fortuna, pois a separação tornava de direito dela metade do que eles tinham de bens!
Um pouco mais controlado, mesmo com toda a seara de discórdia, Gutemberg os encara e diz:
- Agora tenho total convicção do que vocês se tratam, a princípio pensei ter me casado com uma mulher digna, leal, íntegra, mas vejo que casei com uma vagabunda, inescrupulosa, sendo mais baixo posso dizer que casei com uma puta! Quanto ao meu amigo Glauber, grande homem... Estou certo? Não, estou totalmente equivocado, um safado, digno só se for de meu desprezo. Pensam que vocês ganharam o que queriam somente? Alem da satisfação em terem me apunhalado pelas costas, ganharam meu repúdio, e isso será determinante pro resto da vida de vocês!
Referindo-se ao amigo e aliado político, amante de sua esposa, o homem traído continua o discurso:
- Se pensas, Glauber, que irei permitir tão facilmente o divórcio, se engana. Não faço questão de que meu casamento termine por causa de tão putrefata descoberta, pelo contrário, quero que continuem juntos, continue visitando a minha casa, afinal você gosta muito do que lhe é servido para comer, certo? Meu caro, o que você acha da idéia de sua esposa ter conhecimento dessa situação? Não, não, eu não farei uso de uma atitude tão suja para que Dona Rosenvalda tenha sapiência de quem é o Glauber que ela tanto ama!
Após um ano desde a descoberta da traição que sofrera que Gutemberg não se relaciona mais com Eliza como marido. Ela dá seqüência ao caso que tinha com Glauber, os dois estavam vivendo felizes na sacanagem, fazendo usufruto da dinheirama que era de posse de sua vítima.
Não para a felicidade, mas sim para a surpresa de Gutemberg, o casal de traidores passa a enfrentar uma crise no relacionamento, dessa vez não era teatro de Eliza. Glauber se envolveu com uma garota mais nova e isso concitou Eliza a dar o troco na mesma moeda, ambos iniciaram uma disputa, passaram a se envolver com várias pessoas, dessa vez longe da casa do governador, que assistia ao desentendimento na expectativa de que fim teria o que ele denominou palhaçada conjugal!
A situação fora se agravando entre a primeira-dama e o amante, discutiam frequentemente, trocas de farpas, palavras nada agradáveis de ouvir, quando em um desses momentos, o último, já bastante irritado em seu gabinete Glauber sacou um revolver e disparou um tiro contra Eliza, o suficiente para acertar em cheio no coração e matá-la. Em seguida ele apontou a arma para a sua cabeça e disparou o tiro que finalizaria todo o conflito por eles enfrentado.
Ficou a cargo do governador, cuidar de todo o processo condizente ao enterro de sua esposa e do seu amigo, o vice-governador. No dia do enterro após o encerramento da cerimônia fúnebre, sozinho, pois todos já haviam ido embora ficando somente os seguranças dele, os quais ele pedira para se afastarem, Gutemberg falou bem baixo:
- Sejam felizes para sempre!

O casal foi enterrado junto. Após ter se despedido, O governador voltou para casa, lugar onde a paz reinava absoluta. Gutemberg deu continuidade à sua vida, dirigindo majestosamente o seu mandato.

Diego Rodrigues Salviano